quinta-feira, 8 de março de 2012

Constantes

A idéia desse texto já está na minha cabeça faz algum tempo. Uns 6 meses para ser exato. Ele ficava aqui, rodeando, rodeando, eu pensava nos primeiros parágrafos, o que escrever, como desenvolver a idéia que queria passar... mas não escrevia.

Todos temos constantes na vida: a xícara de café diária, sempre por volta do mesmo horário, o "tenha um bom dia" da esposa antes de sair de casa, e várias outras personalizadas a cada um de nós.

Eu tinha uma constante, um número de telefone. Queria saber como fazer feijão? Esqueci quantas xícaras de farinha vai no bolo? O que diabos é derreter chocolate em banho maria? Era só ligar que a voz do outro lado sabia. Ela sabia tudo. Melhor que o google. Eu amava, e ainda amo, essa voz e a dona dela.

Porém, a única constante verdadeira é que um dia tudo acaba. É um clichê? Uma frase zen-budista de biscoito da sorte? Não importa. É a verdade.

O número de telefone ainda funciona. Eu ainda ligo lá para saber essas coisas que vivo esquecendo e ainda tenho as minhas repostas - domo arigato, Imooto-chan - ainda amo a voz e dona dela. Mas a voz é outra. E essa mudança trouxe junto um vazio. Um vazio que dói toda vez que lembro dele. Um vazio que, eu sei, nunca vai ser preenchido.

E agora, no fim do texto, acho que entendo porque a idéia vinha e ia embora. Era a certeza, ainda que inconsciente, que escrever tudo isso seria encarar esse vazio de frente. Confesso que foi difícil mas, não sei ao certo explicar por que, necessário. Talvez um dia eu entenda, ou talvez não.

Quem disse que a vida é fácil?